A Contentor Records é uma editora independente realmente livre. Nasceu e continua a crescer do amor que um grupo de amigos nutre pela música. É transversal a vários géneros musicais e todos os projetos carregam as suas feições. Casa-mãe de, além da Sitah Faya e do Spock, artistas como Buda XL, Erre K, Mr. Papz, Rick Samper, Horus P ou Proton Bay e grupos como SXR, Jangada Pesada ou Project: Nada. Também colaboramos regularmente com outros artistas: Maze, Sir Scratch, Splinter e Luzingo são alguns exemplos.
Este disco nasceu inconscientemente após a gravação da primeira faixa em conjunto. Inicialmente era só uma faixa mas vimos que havia uma química em estúdio que queríamos aprofundar e começamos assim faixa a faixa a criar o que vinha a ser o álbum "Assim Como Vai".
Tanto a Sitah como o Spock têm carreiras a solo. Como pretendem conjugar esta parceria com a vossa individualidade artística?
A parte bonita deste projecto é que existe espaço suficiente para as individualidades de cada um.
Que planos podem partilhar connosco sobre o futuro?
Para já vamos estar a viver a libertação do disco, a procurar tocá-lo ao vivo e a continuar viagem rumo a novas canções.
SF: Assim Como Vai é uma expressão idiomática de índole náutica que expressa o desejo de aguentar o navio na proa (que a agulha de governo indica nesse mesmo momento).Esta é uma frase que sempre me acompanhou nas mais diversas circunstâncias da vida. É para mim, quase como um “lembrete” em que se compreende que a pressa é inimiga da perfeição e se assume a aceitação do rumo que as coisas tomam por si só, sem ceder sob pressões; conduz ao sentido de agir sem exasperar.
É depois de todo o álbum ter naturalmente assumido um carácter marítimo (sem que este tivesse sido previsto dessa forma) que soube que não podia deixar de apelidar o início da travessia com esta tão forte expressão que vi caracterizar todo o processo, no mais pleno sentido das palavras.
Assim Como Vai é a faixa que inaugura o disco, mas curiosamente é a última faixa a ser produzida e por isso sinto que é um tema que caracteriza toda a viagem e não somente a sua estreia. É uma faixa que nos introduz àquilo que no fundo já sabíamos vir à posteriori.
Este tema não só principia, mas epiloga todo
o relevo do disco, batizando toda a obra.
S: Curiosamente este foi o último instrumental produzido para o disco, na altura já sabíamos bem os contornos que a obra tinha, estávamos perfeitamente dentro da viagem que o alinhamento nos direcionava. Mal o sample me apareceu à frente soube perfeitamente que seria para a introdução ao disco, da mesma forma que mal ouvimos os versos a navegar na batida soubemos que queríamos o Dj Sims a terminar o som.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Cuts: Dj Sims - Vozes Adicionais: Max Bonança - Captação: Ben Antonio - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Orçar"
SF: Orçar significa aproximar a proa da direção do vento.
A base para a concretização desta letra
parte da necessidade de reconhecimento e de reflexão perante a minha própria
escrita.
A este ponto, começo a pensar mais sobre o
sentido das minhas palavras e reconheço mais profundamente que estas, além de
serem de mim, são também dos outros a partir do momento que são emitidas. Vivia
aqui uma fase em que me sentia frustrada. Quando há pessoas (carentes da sede
de desmembração de ideias) que te dizem “Eu não percebo nada das tuas rimas,
não entendo nada do que dizes...” o debate nasce e cresce por dentro. Este tema
nasce assim numa tentativa de facilitar as minhas rimas à vontade do ouvinte e
é aí me proponho ironicamente a usar o esquema mais fácil—rimar apenas com
terminações em -ão; sem interpolar, emparelhar ou cruzar versos.
É neste estágio em que me aproximo da
direção do vento, que verifico que a proa continua intacta e que este não me
vira. Aprendo assim, que o fácil não precisa necessariamente de ser simples.
Que aquilo que faço precisa ser exatamente aquilo que é, independentemente do
método. Constato também que a ginástica da compreensão e da interpretação está
ao critério de quem a quiser alcançar.
s: Como a grande parte dos meus instrumentais este nasceu do sample, penso que este beat seja de finais de 2019, aquela vibe Jazzisticó-meloso onde sei que a Sitah consegue expor o que precisar de ser exposto. Em fase de pós produção foram adicionadas guitarras assim como baixo pelo nosso irmão Buda XL (que participou desta forma em grande parte das faixas).
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Baixo: Buda XL - Guitarra: Buda XL - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Ré"
SF: Ainda hoje me curvo perante este instrumental do spock. Assim que o ouvi pela primeira vez foi como se este me dissesse automaticamente tudo aquilo que devia libertar na sua companhia. A Ré é a parte de trás de uma embarcação e esta faixa extrai de mim, muito do que ficou para trás, muito do que ficou por dizer.
O que levo para este tema é uma espécie de
purga em que finalmente me liberto de muitas coisas sobre as quais achei que
nunca voltasse a falar. Foi quase terapêutico compô-la e por fim, ver como
todas as peças a elevaram.
s: Samples de piano a dedilhar naquele tom de quase suspense deram o mote a este som que foi todo construído à volta dessa base.
Em pós produção ganhou Guitarra e Baixo pelo Buda XL assim como melodias vocais pelo Sir Scratch, Sir esse que tomou conta da mistura de todos os temas do disco à exceção do Âncora que foi assumido pelo Mr. Papz que tomou conta de todo o Master do disco.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Baixo: Buda XL - Guitarra: Buda XL - Vozes adicionais: Sir Scratch - Captação: spock, Ben Antonio - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Escotilha"
SF: Quando o spock me encandeia com este instrumental, sabe imediatamente que é merecedor de uma colaboração. É com a maior alegria que podemos contar com os versos melódicos da GEORGIA neste tópico. Identifico-me por completo com toda a sua obra. Justamente por isso, quis que fosse ela a primeira a inaugurar o instrumental e demos-lhe a liberdade total para a temática, pois já sabia que de certa forma nos encontraríamos. Numa fase em que estávamos ainda mais privados de nos conectar com o mundo devido à pandemia que continuamos a atravessar e em que São Paulo assumia proporções grotescas nesse sentido, foi quase um milagre conseguirmos concretizar este tão valioso contributo. Verifica-se o poder da música, das palavras e das vontades. Escotilha é uma abertura praticada nos pavimentos de uma embarcação que permite a passagem de pessoal, carga ou arejamento. A passagem foi concluída com sucesso e a escotilha continua decididamente aberta.
s: Lembro-me perfeitamente que este beat foi feito num sábado de manhã enquanto o Mr. Papz misturava o tema "Âncora" (que por acaso foi o primeiro single a sair). Dos poucos temas que criei totalmente de fones, algo que nem faço muito mas devido às condições teve de ser.
Quando ouvi o beat concluído veio logo a ideia de ter aqui uma participação feminina lado a lado com a Sitah, já tinha ouvido sons da Geórgia e tinha reparado que ela navegava ali numas ondas idênticas às da Faya, um misto de Rap-Melodia-Poesia e foi assim que surgiu a ideia de a convidar para entrar no tema ao qual ela respondeu com toda a prontidão e gravou o verso em São Paulo num caos pandémico bastante mais agressivo que o nosso.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya, Georgia - Baixo: Buda XL - Guitarra: Buda XL - Captação: spock, Georgia - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Abordagem"
SF: Quase tremi quando ouvi este instrumental pela primeira vez. Primeiro porque já conhecia a fonte do sample e já era adepta desse tema, depois porque o modo como o spock a manobrou, arrepiou-me a espinha. Não podia ser mais perfeito e o meu deleite foi tal que quis dar-lhe atenção instantaneamente.
Lembro-me de sentir uma grande responsabilidade na busca pelas palavras certas para a temática que queria versar e fiquei horas a fio a escrevê-la até ver o sol nascer. Queria alcançar palavras, mas o instrumental já falava tanto só por si que só queria ficar a ouvi-lo enquanto este me arrepiava o espírito. Esta é uma canção que me transpira e na qual acredito com todas as forças.
Falo-vos aqui da urgência da igualdade de direitos e deveres entre géneros e da sua consideração como base para a construção de uma sociedade plena e despreconceituosa—uniforme.
Abordagem é o nome dado a uma tática de ataque naval.
Esta é a minha tática para abordar um tema
que está tão gasto quanto inexplorado no sentido prático. Ocorrem ao longo da
faixa mais que condições que demonstram que quer homens, quer mulheres possuem
os mesmos direitos e têm a mesma necessidade de explorar formas práticas para a
desconstrução de conjeturas e é precisamente por isso que este tema não é
criado na intenção de falar para um só gênero, mas sim para as pessoas. Longe
de generalizações apressadas ou falácias.
Não prioriza nada senão o despertar das
mentes, independentemente daquilo que possa suscitar às susceptibilidades.
Este tema foi gravado num só take, à primeira tentativa. Lembro-me de querer regravá-la e falar disso com o spock. Depois de a termos posto a rodar perante vários ouvidos, entendemos que a reação era sempre a mesma. Saciavam-nos o ego com elogios e pelos eriçados. Percebemos automaticamente que não podíamos arriscar num segundo REC pois toda a sua essência já constava inegavelmente no primeiro e único registo.
s: Este é outro beat que me lembro de quando o fiz. Late night, MPC no sofá, também de fones, luz baixa e surge-me este sample, fiquei completamente apaixonado logo pelo tema-mãe, foi imediato. Dos beats que mais prazer me deu de fazer, 30 minutos salvo erro para ele estar assim, fiquei a ouvi-lo horas, gravei o projecto umas 20 vezes com medo de o perder, foi daquelas vezes que ficas mesmo preenchido com o que criaste, ainda hoje o sinto cada vez que oiço.
Mal enviei o instrumental à Sitah diz-me que o sample é de uma das músicas favoritas dela, que mais sinais precisava eu para perceber que era realmente um som especial?
Lembro-me igualmente da sessão de gravação do tema com a Sitah, ela não me mostrou a letra até esse dia, mal começa a rimar arrepiei-me da cabeça aos pés, não consegui imaginar nada melhor para o meu beat favorito do que o que acabava de ouvir, nunca tinha ouvido algo tão digno na essência da mensagem. Aqueceu a voz e gravou este take de uma vez, o tema são quase 6 minutos e ela debitou aquilo na primeira vez que com uma intenção perfeita na expressão da voz. Nem repetimos, quando sentes que é aquilo é porque realmente o é.
O baixo é do Buda XL numa linha que construímos em conjunto, fiquei mais uma vez hipnotizado pela melodia, estava incrivelmente viciante mas estava a chocar com uma frequência no sample, algo que o Sir conseguiu resolver para termos realmente tudo o que queríamos em perfeita harmonia. É provavelmente o meu som favorito do disco.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Baixo: Buda XL - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio
"Âncora"
SF: Este é o primeiro tema que é libertado e
que mostra toda uma necessidade de lançar palavras ao mundo depois de algum
tempo sem fazê-lo, no que me diz respeito.
São duas perspectivas vistas de um mesmo
ponto, que se fundem facilmente graças ao malabarismo genial do Camboja Selecta.
Foi um momento, em que partimos deste porto, rumo a uma expedição que estava ainda a começar.
s: O "Âncora" foi o primeiro tema a ser apresentado porém não foi o primeiro a gravarmos para o que viria a ser este projecto mas provavelmente tem os instrumentais mais antigos.
O primeiro instrumental vai também pegar um pouco aquela base mais Jazz, mas o segundo lembro-me que foi feito numa altura em que andava a ouvir bastante D’Angelo então fui bastante influenciado por esse passo, os instrumentais não foram feitos para estarem juntos na mesma faixa, até porque o BPM é diferente mas fez-nos sentido fazer esta fusão e contámos com o Selecta Camboja para ajudar nessa união, foi uma sessão de estúdio bem passada.
Esta é a faixa que foi misturada e masterizada na íntegra por Mr. Papz.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Cuts: Camboja Selecta - Captação: spock - Mistura: Mr. Papz - Masterização: Mr. Papz
"Casco"
SF: Esta é uma das faixas que mais gosto em
todo o álbum. Principalmente por termos tido o privilégio de trazer o BRAIN
para dentro desta nossa embarcação, sempre apto a luzir em qualquer temática.
A faixa fala-nos do cansaço de sobreviver enquanto nos dividimos entre o trabalho, os dilemas familiares e todas as circunstâncias do quotidiano que muitas vezes nos cansam, sendo ainda assim, as mesmas que nos dão motivos para continuar viagem, fortificando-nos.
s: Quanto ao beat não tenho grandes memórias de o ter feito mas recordo o momento que em conjunto percebemos que havia espaço para o BRAIN nos acompanhar neste tema, foi algo muito espontâneo.
Convite feito já com o rap da Sitah gravado e em pouco tempo estava com o BRAIN em estúdio.
Já tenho alguma experiência com ele em estúdio e é sempre um prazer, tem uma forma de gravar muito peculiar desenvolvida por ele que me deixa sempre estupefacto por funcionar tão bem.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya, BRAIN DA 6ENIOU$ - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Lais da Guia"
SF: Esta é uma das faixas mais especiais para mim. É peculiar em todas as suas fases. Lembro-me lindamente do dia em que a escrevi. Estava na minha terra e caminhava em direção à minha praia (É um recanto onde só chegamos desbravando um mato que nos leva até à Ria Formosa; esta praia fica muito perto do Sítio da Fábrica, onde os meus antepassados construíram o seu pequeno império, constituído por pequenas casas caiadas, erguidas pelas próprias mãos—bem longe dos zumbidos da cidade mais próxima. Este é um sítio que sempre representará as minhas melhores memórias de infância e a forte correspondência que tenho com aquela ria e com todos os seres que nela coabitam).
Naquele dia, não caminhava com a intenção de
escrever.
Pelo carreiro encontrei um caderno de bolso
integralmente intacto, que achei ter sido atirado ao chão ingenuamente por
alguma criança que fosse a passar. Era um caderno pequenino que aludia na capa
o nome de um filme de animação.
Na altura guardei-o e segui caminho até
sentir a areia nos pés.
Fazia algum vento nesse dia e depois de um
mergulho acelerado não me aventurei mais. Decidi ficar ali, sentada na
observação das ilhas.
É aí que decido colocar os fones e ouvir o
instrumental que o spock me tinha enviado fazia um dia.
É automático pegar naquele caderninho
acabado de encontrar e numa das canetas que carrego sempre na mochila e começar
a escrever aquele poema, naquele sítio tão meu, naquele tão meu instante.
Foi instintivo começar a escrever sobre tudo
o que aquele sítio me traz e salpicavam-me referências sobre o meu pai, que
nesse mesmo sítio jaz. Aquele foi o seu porto seguro, assim como o meu, durante
toda uma existência.
O poema nasce sem que rasure uma única
frase, exatamente como foi registado em voz. Parece que por algum motivo,
aquele caderno estava a meio-caminho e aquela paisagem estava mais à frente e
aquelas palavras estavam dentro de mim e de certa forma, dentro dele também.
Mais bonito ainda é ter podido contar com a
vontade da Contentor Records para rolar um vídeo clip que só lograria ser
gravado ali, precisamente no mesmo sítio (acrescentando algumas filmagens de
Vila Real de Santo António, a poucos km, cidade onde sempre vivi).
Nunca terei palavras para expor toda a
gratidão que sinto:
Pelo spock, por me ter abastecido com um
instrumental que se abraçava à ocasião no momento certo.
À Contentor Records (mais particularmente ao
Buda XL, que teve a precisão de registar cada pormenor através da lente do Mr
Papz).
Aos amigos, que demonstraram mais uma vez,
que mais que amigos são fundamentalmente família, escoltando este luto que no
final do dia, me trouxe mais paz que desgosto.
Saudade teremos sempre.
s: Instrumental criado no auge da pandemia, quando tudo era incerto e os artistas começaram a fazer uma espécie de experiências musicais em vídeos de IG.
Fui convidado pelo Emílio Quezada, um baterista amigo residente em Berlim a participar num desses vídeos com uma performance live na mpc mas quando ele me enviou um vídeo a tocar bateria acabei por choppar os Drums todos e criar a base que vinha a ser o Laís de Guia, ainda hoje lhe devo essa participação mas vou fazer certamente Emílio, obrigado por teres dado o mote a esta música.
Foi o segundo tema que apresentámos do disco com um vídeo clip gravado nas origens da Sitah, para o tema que é só fazia sentido assim.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Amurar ao Tempo"
SF: A letra trata da reflexão que se dá a meio-caminho, numa fase em que o álbum já vai assumindo contornos. Fala de intenções e vontades puras, mas também daquilo que não fazemos questão que faça parte do trajeto adiante.
s: Pouco me recordo deste som em específico.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Marés Vivas"
SF: Esta faixa teve que sofrer algumas alterações.
Tenho muita dificuldade em expressar-me em
poucas palavras e este instrumental trazia pano para mangas, tal como a
temática que o envolve.
Depois de ficar assoberbada com as palavras do ERRE K, soube que tinha que reduzir a minha letra a metade, pois como sempre, eu poderia escrever ilimitadamente em qualquer instrumental do spock. O ERRE fala curto e grosso e isso tira-nos sempre os pés do chão e deixa-nos os corações ao alto.
É com o maior regozijo que podemos contar com a sua precisão vocabular para caracterizar aquilo que faz esta faixa assumir uma estrutura sólida e significativa que compromete qualquer acréscimo que eu pudesse trazer à sua mensagem.
Fiz o que pude com o maior dos prazeres e para dizer a verdade, não acrescentava uma sílaba.
s: Como produtor o meu estilo de produção recai muito sobre uma melodia que consiga criar vício, algo que consiga embalar e dar espaço ao Mc para utilizar esse embalo como veículo para a sua mensagem e se há alguém que saiba fazer isso de uma forma incrível é o Erre k, este foi o segundo tema com ele que gravamos para o disco mas este foi o escolhido para figurar o alinhamento final.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya, Erre K - Baixo: Buda XL - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Almarear"
SF: Na realidade, a minha reação quando recebi este instrumental foi mista. Por um lado, estava estupidamente feliz por ver o spock a sair do seu registo comum e a contar comigo para acompanhá-lo nesse sentido, por outro lado, fiquei a pensar “e agora o que é que eu faço aqui?”
Estava longe de imaginar que assim que
começasse a escrever, as palavras apareceriam imparavelmente. As rimas
começaram a cair na batida ao mesmo ritmo das ondas que batem nas pedras de um
cais num dia de marés vivas. Afinal foi quase “fácil”.
Senti-me concretizada por conseguir
adaptar-me a toda a ginga que o instrumental transportava só por si e noto que
é das letras que mais gozo me deu escrever.
Afinal não era só o spock que estava a sair da zona de conforto, era eu
também e estávamos juntos.
Almarear é um regionalismo algarvio que uso espontaneamente. É típico da minha terra e baseia-se na sensação de ficar zonzo (Surge na circunstância de se ficar nauseado a bordo de uma embarcação). Poder nomear esta faixa dessa forma, esclarecendo o seu balançar, tornou o tema ainda mais característico.
s: Este é o tema que traz o restante disco à tona da água. É o instrumental que me atira mais para fora de pé, mas fazia sentido que isso acontecesse.
Originalmente o beat era um pouco mais rápido mas tivemos de o polir para a simbiose com o Rap e ficamos bastante satisfeitos com o resultado final.
Baixo pelo Buda, mas reparem no groove, sff, façam isso.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Baixo: Buda XL - Voz adicional: Sir Scratch - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Nó(s)"
SF: Quando ouvi o instrumental soube automaticamente que o Buda XL tinha que colaborar nesta faixa.
Estávamos todos fechados em casa e em plena
pandemia e toda a minha letra surge de incertezas que me consumiam o cérebro
naquela altura, assim como da reflexão para certezas absolutas sobre coisas que
não se alterariam independentemente da nova realidade vivida. Queria juntar a
perspetiva do Buda à minha e conseguir algo bonito e que refletisse aqueles que
eram os nossos pensamentos naquela fase.
O Buda fez um brilharete, aliás como sempre.
Além do seu contributo vocal, ofereceu-nos também o dedilhar da sua Guitarra e
Baixo, numa cama que finaliza a faixa em plenitude.
Depois de já ter ficado arrebatada pelo verso do Buda, lembro-me de receber um vídeo em que posso ouvir o Sir Scratch a rimar, dando continuidade a esta faixa que parecia não parar de crescer. Não há vocábulos para explicar o que senti. Foi preciso algum tempo para admitir que isso estava deveras a acontecer. O facto de lhe termos aguçado essa vontade, fez-me experimentar esperança, euforia e um sentimento de gratidão que nunca saberei deveras definir.
s: Não me lembro bem como o fiz mas sei que dei voltas e voltas, monta, desmonta até que gostasse do que ouvia e consegui, ficou bonito e no fundo essa é uma característica que também procuro nos meus instrumentais.
O convite ao Buda foi natural, após a Sitah gravar foi uma conclusão óbvia, faltava lá o nosso mano e ele não fez menos do que deixar uma das melhores letras que já ouvi dele até a data, um obrigado para ti não basta mano.
Quando a faixa já estava em mistura o Scra enviou-me um vídeo em que após o verso do Buda estava lá um esboço do que viria a ser a parte dele, passei-me de imediato e enviei logo esse pequeno vídeo à Sitah, um dos meus heróis da adolescência tinha decidido entrar num som nosso, era motivo de celebração suficiente.
Quanto ao final do som surge como por magia, numa cama melódica construída por guitarra e baixo numa sessão em que estava com o Buda e o Scra, nasceu assim a parte instrumental final que foi preenchida pela pessoa que nos ensina que os sonhos existem para serem conquistados.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya, Buda XL, Sir Scratch - Baixo: Buda XL - Guitarra: Buda XL - Captação: spock, Ben Antonio - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Leme"
SF: Este é o primeiro tema que combina as minhas palavras com a habilidade do spock para conceber instrumentais bonitos.
Estávamos ainda longe de pensar que aqui
inaugurávamos um álbum.
Bem creio que o tema aparenta retratar uma relação entre duas pessoas.
Na verdade, a história que vos conto aqui,
corresponde à afinidade do ser para consigo próprio, enquanto se debate com
as diversas personas que possam existir-lhe internamente, sendo sempre uma
pessoa por si só. Espelha assim, o conflito que é descobrir e acolher a nossa
essência, numa busca que ocorre dentro de nós mesmos.
s: Chegamos à faixa que deu origem a tudo isto, 2019 era o ano.
Muito influenciado pela onda Soulquarian, foi a primeira vez que fiz um beat e a primeira pessoa a vir-me à cabeça foi a Sitah, algo que até estranhei pois apesar de sermos amigos já há alguns anos nunca nos tínhamos cruzado propositadamente na nossa arte.
Mais do que a letra, performance e todos os valores técnicos houve algo naquela sessão de gravação que despertou o clique para algo maior e assim foi.
O Mr. Papz e o Rick Samper deram o brilho live a esta faixa com um naipe de sopros que eu nem nos meus melhores dias conseguiria imaginar, obrigado manos.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Sopros: Mr. Papz, Rick Samper - Captação: spock, Mr. Papz - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Vigia"
SF: Este é sem sombra de dúvidas um dos meus
temas de eleição.
Se há faixa em que me vejo absolutamente
transparente quanto àquilo que penso, conseguindo expor isso em poucas
palavras, é esta. O instrumental do spock trouxe-me tudo nesse sentido, dando
aso a que expressasse exatamente aquilo que queria dizer.
Falo-vos aqui de várias indignações e
condições do ser que se expõe artisticamente, de uma forma tão geral quanto
particular.
s: Este beat nasceu numa aldeia remota na zona do Fundão, Orca e foi esse o nome do beat até ter um batismo enquadrado no disco.
Verão de 2019, um calor daqueles que nem dá para dormir, MPC na rua, colunas Hi-fi com cabo AUX e passado pouco tempo surge o sample, não me vem à ideia de quanto tempo demorou mas lembro-me de o ficar a ouvir em hipnose durante bastante tempo.
Mais uma vez fiquei completamente surpreendido com a volta que a Sitah lhe conseguiu dar e com a profundidade que ganhou.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Nautas"
SF: Depois de Despertar Para Sempre, era evidente que teríamos que dar continuidade a este tão funcional trio. O spock traz-nos um beat cheio de energia e ímpeto para o qual não podíamos deixar de trazer o magnânimo Maze, sempre sublime nas suas palavras. É para mim um privilégio poder contar com elas e com todo o apoio moral, espiritual e intelectual que este nos tem dedicado. A forma como a letra dele suplementou a minha é algo mágico e arrepiante que remata todo tema.
s: Um beat com pujança traçada pelos drums um pouco fora do habitual foi o que me convenceu que era isto que falta no disco.
O convite ao Maze foi inevitável, só ele ia conseguir desbravar o labirinto poético que a Sitah apresentou.
Foi a primeira faixa que nos ligou com o Dj Sims, mas foi como se já tivéssemos trabalhado juntos há mais tempo, foi química pura.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya, Maze - Cuts: Dj Sims - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz
"Terra à Vista"
SF: É aqui que embora “avistando terra “decido contornar o desfecho e anuncio que a viagem não fica por aqui, não sendo este o destino final. Este tema assinala um momento de consideração perante toda a travessia, retratando o bom tempo e também toda a ondulação.
Este é um porto do qual partimos, num
cambalear rítmico em que aprumamos as vontades rumo ao desejo de destino.
s: O tema que fecha este disco. Admito que estava em pressão com a necessidade de um instrumental digno para o efeito, fiz vários mas não passavam de mais um beat, quando o esboço deste ganhou sentido tudo o resto também ganhou, todas as peças se uniram e conseguimos vislumbrar a embarcação que tínhamos construído.
Esperamos conseguir transmitir essa sensação.
Instrumental: spock - Letra: Sitah Faya - Vozes Adicionais: spock, Max Bonança - Captação: spock - Mistura: Ben Antonio - Masterização: Mr. Papz