Talvez seja o facto de ter feito parte de uma crew de dança com o irmão mais novo, não sabe bem dizer, mas a crua natureza percussiva da música de Firmeza revela um grande entendimento dos movimentos do corpo. Isso tornou-se cada vez mais evidente desde que começou a aprender a mexer no FL Studio com as dicas do seu outro irmão (mais velho) e do DJ Nervoso. Firmeza ficou conquistado, tinha 11 anos, todos passados em Portugal, onde nasceu de ascendência angolana. Este EP é dedicado ao seu pai, infelizmente falecido há alguns meses, uma luz só relativizada pela de Deus - não é estranho Firmeza derramar algumas lágrimas naqueles momentos especiais de uma actuação, quando as coisas parecem boas demais para serem verdadeiras.
"Alma Do Meu Pai", a faixa-título, muda o jogo e chega aos 6 minutos, o triplo da duração média de uma malha de batida; é uma grelha de percussão hipnótica que demonstra bem a fluidez rítmica que Firmeza herdou e aperfeiçoou a partir de beats clássicos do DJ Nervoso;
"Somos Melão Doce" introduz cordas sintéticas dedilhadas que soam totalmente alienígenas neste contexto mas transportam uma agenda emocional muito precisa. Não é por acaso;
A abrir o lado B, "Os PDDG" nomeia o incrível grupo de que fazia parte com Liofox (co-autor nesta faixa), Dadifox, Maboku e Lilocox (os dois últimos agora activos como CDM). O passo é relativamente calmo e as quebras de percussão são estrelas de pleno direito, emprestando um tom vanguardista a esta dança tribal;
Em "Start Go" ouvimos cânticos assertivos envolvidos uns com os outros, dentro e fora de sincronia, segurando um caminho para o trabalho pesado de percussão;
Quando chegamos a "Coelho 2025" já é mais que evidente que estamos 100% na teia rítmica complexa de Firmeza; esqueçam noções de kuduro ou afrohouse, isto é mesmo outra coisa; "Suposto" acrescenta flauta e guitarra sampladas para colorir a
atmosfera, equilibrando o habitual trabalho de génio na
percussão.
Elástica e intuitiva, esta é para os dançarinos que gostam de desenhar formas no espaço com as mãos.
Lisboa, 2015
Elástica e intuitiva, esta é para os dançarinos que gostam de desenhar formas no espaço com as mãos.
Lisboa, 2015